Saturday, July 25, 2009

Récita Maloqueirista

A Récita Maloqueirista chega à sua 4a. edição, em parceria com os Parlapatões, sempre no último domingo do mês, das 17h às 19h. Palco aberto, varal, máquina de escrever, trânsito, feira, ruídos e interferências.

arte: Marcus Binns


Espaço dos Parlapatões - 26/07

Pça. Franklin Roosevelt, 158, Centro-SP
Próximo aos metrôs República e Anhanga_baú (da felicidade)
Entrada Franca


Wednesday, July 22, 2009

primeiramente queria agradecer a todas as manifestações de apoio recebidas no último mês. a todos que se manifestaram também peço desculpas pelo longo silêncio - além da minha tradicional lentidão com a internet soma-se a minha itinerância em locais não plugados no último mês e também ao meu direito a reflexão sobre o episódio para que as minhas palavras não nos fizessem perder o que temos de mais importante: a razão.


então segue abaixo o meu comentário sobre o (triste) episódio da apreensão de 16 exemplares do meu livro "Descaminhar".


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"Personalidades autoritárias temem que a ameaça não venha das idéias, e sim da emoção. Quem está no poder nunca quer que nós tenhamos sentimentos. O pensamento pode ser controlado e manipulado, mas a emoção é obstinada e imprevisível. Artistas ameaçam a autoridade expondo mentiras e inspirando a paixão pela mudança. É por isso que quando tiranos assumem o poder, seus pelotões de fuzilamento miram no coração do escritor".

(Robert McKee)

Para quem ainda não sabe o episódio:

Na Quinta-Feira, 02/07, estava trabalhando na FLIP, vendendo meu livro Descaminhar, no velho e prazeroso esquema de abordagem direta, olho no olho, mão em mão, quando fui alertado por um fiscal de que a FLIP havia solicitado à Prefeitura de Paraty que não permitisse que ninguém trabalhasse vendendo seus materiais na cidade, mesmo eu sendo um convidado da Off-Flip e mesmo o produto que eu estava ali divulgando sendo algo extremamente pertinente ao momento: um livro. No segundo momento, quando chamado por uma leitora que havia visto anteriormente o livro e estava interessada, fui novamente repreendido pelo fiscal que então tomou uma absurda atitude para o século XXI - Apreendeu os livros, escritos e produzidos por mim mesmo, dos quais eu sou único responsável e proprietario dos direitos autorais, sob o argumento de que eu estava "comercializando produtos sem autorização".

É importante ressaltar que eu em momento algum montei uma banca, uma barraca ou qualquer coisa do tipo - o que descaracterizaria qualquer dano patrimonial a cidade, desculpa oficial que surgiu dias depois da FLIP mas que sequer foi comentada durante a FLIP. Eu estava apenas divulgando de mão em mão, olho no olho, dentro do meu direito de ir e vir e de livre expressão artística. Eu não estava portando logotipo de nenhuma empresa, não estava vinculado a nenhuma instituição ou pessoa juridica e, portanto, esse ato não pode ser caracterizado como "ação comercial". A origem da poesia vem das ruas e praças, onde ela nasceu. No entanto, desde os tempos dos trovadores o artista precisa comer e ter onde dormir e, portanto, faz-se necessário dentro de um trabalho de divulgação a contrapartida financeira.

Diante de tal situação rumamos eu, Berimba de Jesus e Rodrigo Ciriaco para a Off-FLIP, que nos havia convidado, a fim de relatar o episódio. Quando conversamos com o Ovidio, ele nos informou que a FLIP já havia repreendido também algumas meninas que estavam divulgando folhetos da Off-FLIP e demonstrou grande preocupação com o fato. Na mesma tarde Rodrigo comunicou Marcelino Freire do ocorrido e nós também conversamos com a Lia, da Off-FLIP, que também se comprometeu a atuar no sentido de lutar pela liberação do nosso trabalho. Graças a um esforço conjunto de diversas pessoas, que procuraram a direção da FLIP e a imprensa, conseguimos finalmente chegar ao Sr. Didito, que nos informou "que a FLIP não queria ser caracterizada como um evento comercial, que não queriam que virasse uma feira." Explicamos a ele a natureza de nosso trabalho, que não estavamos montando barracas, o que descaracterizaria a "feira", que a literatura de rua é uma tradição antiga no Brasil, que mesmo Manuel Bandeira, homenageado da edição, editava e vendia os próprios livros e, após esta conversa, mesmo com relutância, ele acabou não apenas me autorizando a trabalhar, mas a todos os demais escritores de rua.

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O caso é que tal apreensão gera a necessidade de uma reflexão mais ampla sobre o momento cultural que o Brasil vive. Um país que luta para estabelecer uma cultura de leitores não pode abdicar jamais do trabalho dos muitos autores que tomam as ruas para divulgar a literatura. Estas pessoas, de vidas dificeis e que lutam para sobreviver com um minimo de dignidade, dedicam suas mais nobres e vitais energias para ultrapassar as dificeis barreiras impostas entre um autor e seu público. Ninguém fica milionário com isso (muito pelo contrário) e, na verdade, a maior parte dos autores de rua trabalham de segunda a segunda, faça chuva ou faça sol, e ainda por cima sofrem com a pecha de "vagabundos" e com um preconceito cada vez maior, inclusive do meio literário. Como se fossem uma espécie de "sub-literatura". O que, na verdade, esconde um argumento implicito de que só é "boa literatura" aquela literatura que é chancelada pelos meios oficiais. Se você não passou por um crivo editorial, se não tem um respaldo acadêmico, você passa a ser tachado como um "artista menor".

Esse preconceito chancela atitudes autoritárias como a que ocorreu na FLIP, como se o autor que vende o seu livro na rua fosse um mero camelô, vendendo produtos contrabandeados sem recolhimento de impostos. Não é. Um autor que está divulgando sua obra tem um carater diferenciado por alguns motivos. Primeiro: é dono da obra em questão, seu único responsável e detentor dos direitos autorais. Segundo: seu "produto" foi produzido por ele, não foi tomado de ninguém e, portanto, é perfeitamente legítimo que ele possa comercializá-lo. Terceiro: o livro é um produto isento de tributação e, assim, quando ele faz sua venda olho-no-olho não está sonegando nenhum imposto. Quarto: a venda deste "produto" extremamente específico, de valor cultural, pode ser classificado como direito de expressão artística. Pois, quando o artista se depara com as MUITAS barreiras existentes entre ele e o público (que julgo desnecessário citar, pois creio que quase todos sabem das dificuldades de ser publicado e chegar às livrarias no Brasil), as vezes sua única saída é trabalhar com o relacionamento direto com o leitor. Ou seja, se um autor está na rua vendendo seus livros isto muitas vezes reflete uma falta de opções diante da sua necessidade de se expressar e ser lido. Pode-se até questionar eventualmente este caminho. Mas é indiscutível que é algo que deve ser respeitado.

Assim, vejo como necessário aproveitar esse momento para levarmos a uma reflexão, a fim de que se possa revalorizar esta difícil escola das ruas. Essa escola que olha no olho dos leitores, que percebe suas emoções refletidas nos olhos diante do livro, que masca pedras para cuspir flores. O público é também um validador possível para a literatura, não cabendo apenas aos meios tradicionais o poder de chancelar o que é ou não literatura. Até porque estes meios também são dinâmicos e o que antes era considerado bom pode amanhã ser ruim, ao sabor do gosto ou da teoria do momento. Assim, é legítimo legar ao leitor diretamente o direito de decidir o que lhe agrada ao não, independente de resenhas, indicações ou prêmios. Á Cesar o que é de Cesar.

Agora o que dizer a quem sustenta um evento que toma atitudes que deveriam ser sumariamente rechaçadas? Talvez que, assim, a FLIP NEM PARECE FESTA LITERÁRIA. Que NÃO FOI FEITA PARA VOCÊ e NEM ACREDITA NO MELHOR DO BRASIL. Enfim, é algo para se pensar.

Por favor, se você concordar com estas palavras, passe adiante. Não podemos nos calar diante disso.

Repercussões do Caso: (sabendo de mais alguma, me informe. dados by google)

http://www.ptostes.blogspot.com/
http://www.efeito-colateral.blogspot.com/
http://www.logorreia.com.br/
http://sobrecacosepontes.blogspot.com/
http://berimbadejesus.blogspot.com/
http://bethbraitalvim.blogspot.com/
http://flaviadurante.blogspot.com/
http://chacalog.zip.net/
http://photophophoka.livejournal.com/
http://outubro.blogspot.com/
http://otatubola.blogspot.com/
http://www.ube.org.br/lermais_materias.php?cd_materias=3271
http://www.marmitafilosofica.com/
http://www.ambrosia.com.br/ http://jbonline.terra.com.br/leiajb/noticias/2009/07/07/cultura/poetas_de_rua_barrados_na_festa_dos_livros_em_paraty.asp http://mnocelli.blog.uol.com.br/
http://associaodosblogueirosdesocupados.blogspot.com/
http://lysminhalma.zip.net

Abraços e saud-ações a todos,
Pedro Tostes
ptostes@hotmail.com
http://www.ptostes.blogspot.com/

FLIP, por Claudia Canto

Tem algum negro na platéia?

Resolvi dar um pulinho em Paraty, mais especificamente região sul do Rio de Janeiro, na famosa feira internacional do livro.

Juntos estavam dois poetas: Pilar e Talapaxi, além de um intelectual alemão, que muitos acredito que já o conhecem como o inventor de um novo tipo de veículo modular (que pode ser transformado instantaneamente conforme a necessidade do usuário, mais ou menos como o brinquedo lego.)

Enquanto Pilar e Talapaxi, vendiam suas poesias a contra gosto dos organizadores, que proibiram todo tipo de comercialização nos arredores do evento, incluindo as poesias, como se poesia fosse algum tipo de droga.

Mas como estamos no Brasil, a vigilância foi afrouxando, afrouxando e depois liberou tudo.

Acho que a voz da sensatez chegou aos ouvidos dos organizadores.

E eu filmava tudo que de mais pitoresco achava no caminho. Acabei com isto descobrindo uma Paraty diferente da que vemos na grande mídia, um lado alternativo que gostei muito.

Fiquei bastante satisfeita com isto, pois pude notar uma quantidade razoável de negros, índios, caiçaras, poetas autônomos, artistas plásticos e outros tantos...

O ponto alto da festa se concentrou na praça principal, onde se via bonecos gigantes, correndo desesperados das crianças que tentavam a todo custo arrancar as máscaras dos coitados dos bonecos. No mesmo local foi instalado uma grande tenda, reservada para as crianças, ali acontecia o encontro dos autores infantis, e chamaram o lugar de Flipinha.

Logo ao lado, outra tenda com um telão que transmitia os debates que aconteciam ao vivo na tenda dos autores.

Foi ali no telão, que consegui ouvir o Chico Buarque, na verdade ouvia o ruído das suas palavras, devido à aglomeração, parecia que a Flip inteira se voltou para este momento. Chico leu alguns trechos do seu novo livro: “Leite derramado”, que me pareceu interessante.

Quanto a mim, logo cansei de tentar ouvi-lo, e resolvi dar umas voltas, foi então que encontrei os poetas maloqueiristas, também divulgando suas poesias.

Oh vida dura! A vida dos poetas... Depois dizem que poeta não gosta de trabalhar.

Ficamos hospedados em um camping, no meu caso foi à primeira vez, gostei muito... Quero repetir.

Conheci o pessoal da “OFF FLIP, na verdade uma flip underground, e olha que não fica a perder em nada para FLIP tradicional..

A OFF FLIP desenvolve várias atividades, dentre os quais: saraus, palestras, lançamentos de livros de escritores anônimos, e com isto aumentam as oportunidades para os artistas divulgarem os seus trabalhos.

Tive muita sorte, porque pude assistir a muitas palestras de alguns formadores de opinião: jornalistas franceses, americanos e outros, puderam desta forma conferir as vertentes do novo jornalismo.

Mas o grande momento da Flip, pelo menos para mim, foi na palestra do jornalista Simon Schama, quando uma pessoa da platéia, perguntou: O que o senhor acha da ausência de negros na platéia?

Ele em tom de brincadeira colocou os óculos, procurou calmamente e depois de constatar, disse: é verdade não tem mesmo, acho que isto foi um erro da FLIP!

Enquanto do lado de fora eu gritava ingenuamente, sem poder ser ouvida:

Como não, olha eu aqui, ei, ei, ei...

Mal sabia o tal experiente jornalista, que o "buraco" da FLIP, está em todos os segmentos da sociedade !

Claudia Canto, jornalista e escritora