por Heyk Pimenta
Faz um tempo que ouvi o Giovani Baffo dizendo que para o Quintana “poetas não leem poesia, mas as pequenas notas do jornal”, achei que era um levante à canonização e à erudização da arte e não liguei tanto para o que ele estava dizendo, me soou bem mais como um “não leio poesia, escrevo o que eu sinto”. Na segunda vez que ele me disse isso foi quando tínhamos um hóspede em nossa casa que estava comprando alguns jornais por dia, atrás de casa, de trabalho, de carros, aí foi que entendi a história das notas de jornal e fiquei um pouco preocupado.
Nessa semana em resposta a perguntas sobre a importância dos coletivos de arte da contemporaneidade, o Victor Meira me disse que nós os artistas, nos unimos bem mais para nos expormos, para nos divulgarmos do que para que haja algum tipo de convergência estética. Fiquei preocupado de novo e respondi com alguma dureza que tinha ficado decepcionado, não com ele, mas conosco, porque tinha visto um punhado de verdade ali que não estava precisando para terminar a semana.
Hoje me voltaram essas afirmações quando estava lavando um tênis que ganhei do Joannes Jesus, tinha ficado pequeno para ele, foi o tio dele quem deu. Pensei que o Bruno Cordeiro deu um tênis para o Guila, outro para o Giovani, acabo de ganhar dele também um fogão, o nosso aqui em casa, é da proprietária do apartamento e só tem duas bocas. Lembrei que a gente está sempre trocando. Trocando camisas, violões, livros. Dificilmente em forma de troca, mas de presente, que acaba voltando depois em forma de outra coisa, ou no prazer mesmo de ir agradar o amigo, ou por ver que o amigo já passou dias melhores e por aí vai.
Aí fui ver que é fato. Estamos à beira das pequenas notas de jornal, sempre. E é aí que está a convergência: muito mais do que esteticoartística, é uma convergência de grupo comum, a tal da solidariedade de sociedades tradicionais, a tal da mãozinha dos maçons. Precisamos uns dos outros mais do que artisticamente, estamos muito próximos das margens, nos diferenciamos dos moradores de rua pela quantidade bem menor de estrelas que nosso teto tem.
O que nos une é a precariedade, novamente. Por sermos precários fazemos livretos, shows, encontros e almoços juntos. Não conseguiríamos sozinhos. Claro que entre um escambo e outro rola um samba, uma poema, uma ideia fantástica para dominar o mundo, o nascimento de uma marca. Mas isso é por estar perto. É um movimento de mão dupla: o Guila Sarmento me disse que se aproximou de mim por reconhecer nos nossos poemas a mesma língua, a mesma urgência. Que hoje também é urgência por abrigo, por amigo, por confabular, dar sequência junto às coisas que pensamos primeiro sozinhos, enfim ser coletivo.
Há pouco tempo o Sergio Cohn disse: se ficarmos ricos e cada um for trabalhar de um lugar os nossos projetos coletivos, falimos, porque as ideias temos é juntos. Sei que é complicado assumir, mas parece que com outros propósitos vim afirmar novamente um bordão dos anos 1960/70: que o nosso tchan, nosso brilho é o precário.
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