Friday, September 19, 2008

Boletim de Notas 2


Indice
Por Luiz Thunderbird


Vamos a mais um Boletim de Notas e, desta vez, as notas são ótimas! A música alternativa caminha pra alta temporada de festivais. É nesses eventos que podemos ter uma idéia da produção independente. Já rolou o Abril Pro Rock, em Recife, o Mada, em Natal, o Bananada, em Goiânia, o Vaca Amarela, da mesma cidade, o Porão do Rock, de Brasília, o Calango, de Cuiabá. E tem o Goiânia Noise Festival e o Demosul, em Londrina. Todas essas cidades têm seus festivais em plena atividade. Já participei da maioria deles, mas não vejo o mesmo acontecendo na cidade de São Paulo. Aqui, onde as bandas têm clubes especializados, onde muitas delas resolvem montar suas bases, onde provavelmente, existe um público maior para prestigiar um evento dessa natureza, não acontece nada nesse sentido. Foi durante uma entrevista ao programa Trama Virtual, no Vaca Amarela, que tive a idéia de organizar um festival de música independente em São Paulo. E acho que vai rolar! Não tenho formato, local, data, mas tenho a vontade de fazer acontecer essa festa. Isso é o primeiro passo.


Vídeocultura

O Thunderview está no Showlivre, agora com patrocínio. Só falta ganhar dinheiro (hahaha…). Mas o trabalho é divertido e periódico. Gravamos o programa na quinta-feira e, na sequência, edito o programa da semana anterior. Assim, mantemos um programa sempre adiantado. Ele “sobe” no site às segundas-feiras. As pessoas me perguntam qual a diferença entre a TV e a internet. A internet ainda tem espaço para a experimentação, o risco, a fuga. E a TV está cada vez mais careta. A repetição das fórmulas me enche o saco. Podíamos assistir pelo menos a distorção das mesmices. Nem isso! Vejo que o SBT copiou o American Idol, a Record comprou o Ídolos, a Rede TV fez o mesmo com o Gas Festival (imagine um festival de novas bandas de rock apresentado por Toni Garrido!). Quero fazer algo assim, mas arriscando alguma coisa. Dando algo novo pro telespectador. Provocando um pouco, pelo menos. Outro dia estava no Astronete, um pequeno clube de rock da região da Rua Augusta, em São Paulo. Falávamos sobre amenidades sórdidas, quando veio a idéia de fazermos um programa novo. Depois de uma semana, Cláudio Medusa (dono do clube) havia conseguido uma parceria para o feito. Gravamos o piloto, editamos e este deverá entrar no site do bar, no Youtube, enfim, vamos distribuir ao programa livremente. O nome do programa é Xico Louis Astroshow. Trata-se de uma revista eletrônica, onde entrevisto as pessoas da noite roqueira. Bom humor e papagaiadas são a tônica do XLA. Recentemente, concedi uma longa entrevista aos alunos do professor Cláudio Tognolli, da faculdade de comunicação Fiam. Eles falavam do “eucentrismo”. Dessa nova maneira de se paginar, com Ipod, My Space, Youtube e assim por diante. Quem quiser, já pode “acontecer” as próprias custas. Fazer seu universo e comunicar-se com os outros . Muita gente tem feito isso. “E o futuro?”, me perguntaram. No futuro, as pessoas serão mais exigentes. As produções caseiras terão que aumentar seu nível, porque a competição será intensa. E quem realmente gosta do assunto, vai ter que melhorar sua performance. Acho isso muito bom. Os repórteres dos jornais e dos telejornais já estão apelando aos seus espectadores, para que enviem fotos, imagens e reportagens aos seus estúdios e redações. A competição é enorme. E assim como os jornalistas eram dependentes dos “releases” dos assessores de imprensa, hoje a TV depende do sujeito certo na hora certa. É o cidadão comum que tem a chance de implacar um “furo de reportagem” na TV. E na área cultural, isso pode acontecer também. É esse caminho que estou trilhando. Experimentando para poder mostrar minhas coisas pras pessoas. E tem muita gente fazendo isso.


Lançamentos

Nesta edição vou destacar três discos de música instrumental interessantíssimos. A produção de música instrumental está aumentando. Impulsionados pelo sucesso de bandas como Hurtmold e Objeto Amarelo, artistas como Maurício Takara, Guilherme Mendonça, Curumim, Chimpanzé Clube Trio e Macaco Bong, vêm se destacando no cenário musical. Lógico que junto com a turma, sempre vêm os chamados “peixes piloto” da música. Bandas oportunistas que pretendem se impôr nesta categoria, mas não tem estofo para tanto. Quando saio à procura de novidades, encontro desagradáveis decepções. Mas essas, a gente deixa de lado, bem à margem. Estar à margem da “música marginal” já é castigo suficiente. E saudações aos artistas autênticos, estes sim, merecedores de comentários, se é que vocês me entendem…


Guizado – Trabalho musical capitaneado pelo trompetista Guilherme Mendonça. O jovem paulistano me contou no Thunderview, que começou a ouvir Miles Davis ainda criança. Hoje, adulto, na estrada há tempos, com direito a excursões internacionais, o sujeito lança seu primeiro disco. PUNX traz 11 faixas disponíveis num CD em formato SMD. O disco é vendido nos shows a R$5,00. Isso paga a produção do disco e divulga o excelente trabalho registrado no disco. Com participações do Rian e Regis (Cidadão Instigado) e do baterista Curumim (que também lançou seu disco solo “Japan Pop Show”). Recomendo muitíssimo o disco e o show dessa super-mini-orquestra. Você encontra o disco no site: www.urbanjungle.com.br

Chimpanzé Clube Trio – Conheço o núcleo da banda do tempo em que Luis Miranda e Guilherme Garbato integravam outra banda interessantíssima, Os Abimonistas. O “Chimpa” , como é mais conhecido, traz além do trio formado por Luis, Angelo e Felipe, participações especiais do já mencionado Guilherme Garbato (pianista/organista/saxofonista), Beto Montag (vibrafone), Filipi Nader (pífano) e Gustavo Garbato (sintetizador). São doze faixas incríveis, que vão conduzir o ouvinte aos caminhos inusitados de composições de nomes sugestivíssimos como “Extrato de energia volátil” e “Um rancho na Jamaica”. Boa música tocada por bons músicos. Yes!!!

O disco foi lançado pela gravadora Reco-head e distribuído pela Tratore. Dá uma olhada no site: www.chimpa.com.br

Macaco Bong – Quando ouvi o nome da banda pela primeira vez, achei que seria mais uma banda de rock pesado. Acertei no peso, mas os caras vão muito além de “mais uma banda”. Vi seu show no clube paulistano CB, na Barra Funda. Impressionante! Um trio de arrepiar todos os pêlos, a banda sacode todos os ouvidos, com inacreditável energia. Todo o virtuosismo parece favorecer a performance dos caras, sem atrapalhar sua imagem. Geralmente, super-músicos são muito chatos, exibicionistas, afetados. Os sujeitos são a imagem e atitude da humildade e talento. Duas qualidades difíceis de caminhar juntas. O disco, lançado pelo selo Monstro Discos, traz a faixa “Amendoim”, que já carrega o ouvinte ao lugar merecido. Os caras são de Cuiabá, berço de um festival muito interessante, o Calango. Isso nos remete ao princípio da nossa conversa, aqui neste Boletim. Um festival pode revelar músicos e trabalhos muito bacanas. E por isso, adiantei que as notas desta edição eram ótimas. Confira parte deste disco no site: www.myspace.com/macacobong

Esses três discos de boa música instrumental são importantes lançamentos nacionais, de um estilo que esteve submerso por algum tempo. Estive na companhia de Homero Lotito, pianista do grupo instrumental “Pé ante pé”, liderado pelo genial saxofonista Teco Cardoso. Essa banda de jazz moderno atuou no fim da década de 70 até os anos 80. Naquela época, assisti ao surgimento de bandas incríveis como Grupo Um, Orquestra Azul, Pau Brasil, Divina Encrenca, todas instrumentais e de alto nível. Podemos estar atingindo esse patamar em breve. Isso depende dos músicos e do interesse que estes despertem nas pessoas. Essa coluna espera ter aguçado o interesse dos leitores da Revista Não Funciona. É assim que funciona! Abraços e até a próxima.

Thunderbird é comunicador, músico e produtor musical.

http://thunder.blog.uol.com.br
www.showlivre.com/thunderview


*Este artigo faz parte da coluna Boletim de Notas, publicado na Revista Não Funciona 17, a ser lançada dia 27/09, no evento Centro de Ação in-formal, organizado pelo coletivo Poesia Maloqueirista.


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