*A.B.C
Ah prussôr, não vou fazer lição não. Não entendo nada mesmo. Tô cansado de ficar só copiando. Num sei lê, num sei escreve. Conta? Conta eu conto, claro. Trabalho com dinheiro vivo. Se eu não conta quem é que garante a minha mesada? É, a vida é cara. Quem paga meu tênis, minhas roupa de marca? Quem? Pai e mãe num tenho. Já foi. Tudo morto. Só balaço. Mas eu nem ligo. Já cicatrizô. Nem choro. É, rapá, homem não chora. Só Jesus chorou. O cara era gente fina, mas ó, muito pacífico. Comigo não, é na bala. Minha vida é na quebrada. E no esquema. Nem olhe pra minha cara. Olho, plá. Levô tiro.
Quem guia a minha mão é o Marcola. Se eu já matei? Eh prussôr, da missa cê não sabe o terço? Já tenho treze anos pô. Sô bicho solto, bicho feito. Tô enquadrado. É, já to viradasso. Já paguei até veneno. Um ano na FEBEM. Várias rebelião e o caralho. Tô aqui de L.A. Só por causa do juiz. Memo assim, num tem quem me segura. Fico pelos corredor, só nas fissura. Dando umas volta, ganhando a fita. Estudar? Só entro na aula do senhor porque o prussôr é gente fina. Mas não estudo não. E só entro de vez em quando. É não tem mai jeito jão. É feio ficar chorando pelo que se rebento. Já se estrago. Tem defeito. Minha vida agora é assim, só no arrebento. Mudá? Só se for de ponto. De vida eu não quero não. Tô bem prussôr. Valeu a preocupação, satisfação.
Ah muleque doido! Ó, tô saindo. Cansei de ficar na sala de aula, na escola. Sei lá. Aqui é tudo muito parado. Vou pra rua. Lá que é o barato. É. Lá eu já sou mestre.
*Texto publicado na Revista Não Funciona 14
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Domingo – 15/06, a partir das 17 horas
III Encontro de Literatura Periférica de Francisco Morato
Centenário de Solano Trindade. Convidada especial: Raquel Trindade
No CIC ( Centro de Integração da Cidadania)
Rua Tabatinguera, 45 ( próxima à estação de trem de Francisco Morato, colada na prefeitura)
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